24.9.19

DIANTES


Lembrança própria ou do narrado?
O medo, o espanto, o novo ao redor dos atos:
acordar, os espaços da escola, as outras crianças.
Não eram os iguais, eram os diferentes, desde sempre.
Eles dormiam tranquilos.
Seus olhos abertos querendo conversar.
Sempre acordada para ouvir.

No filho a angustia para que durma, desligue do mundo,
se conecte com o além, com o íntimo,
com o mesmo mundo que ficou pra trás, ficou de fora,
e irradia pela janela,
em pios, aromas, gargalhadas.

Nas lembranças não existem muitas risadas,
se sobrepõem os silêncios.
E as conversas inteligíveis.

O filho começa a falar,
quer comunicar tudo que pensa e vê.
Tudo que lembra.
É a vez dos verbos,
primeiro vieram os sujeitos, substância dos acontecimentos.
Seres, antes mesmo de serem.

A lembrança vem estática, imóvel, fotográfica.
Apenas o som se move.
E seu olhar panorâmico.
Olha pra dentro. Pro sono do filho.

Que criança é essa? Não existe criança, parece que nunca existiu.
Sempre foi a mesma.
Nostálgica.
E insone.


Sem comentários: