21.12.16

lavra-livre-livro


palavrando terras
e semeando finais felizes

eras e vezes e quantos capítulos puderem florescer!

10.11.16

pedacinha


A maturidade me levou a ser pedaços.

Tantas partes que se foram. Tantos apartes.
As peças que se encaixaram, se desencaixaram, foram encaixotadas.

Me sinto um pedacinho de gente.
Um coração e uma cabeça pulsantes.
Em plenos pulmões
e ares rarefeitos.

Um quebra-cabeça de mim mesma.
Onde me encaixo, me conecto, em que me ligo...

Mão pra dar - cumprimentos, apoios, pazes, parcerias, na cara.
Pé - pra fora, na bunda, na estrada.
Ombros - que me dão com as costas, ou para recostar.
E os miúdos.
De dentro. Entranhas, estranhas. Que filtram a bílis ou a engolem a seco

Despedaçada e íntegra, em construção sempre.
Sou a mesma, e nunca igual, sempre em busca e incompleta.

Que estará por vir pra me somar e me diminuir e multiplicar e subdividir.

Em que pólos se reunirão todos esses átomos? Pra onde irão até explodirem?

11.10.16

desacordo


acordo comovida mas paralisada
a vida se encrespa um pouco mais

preciso dar corda aos projetos
sem me enforcar

sufoco
golpe na boca do estômago
rarefeita

tudo está lá
remoendo, revirando, revoltando

em sua óbita
o mundo também gira
haverá outro amanhecer

22.6.16

tempos rareados


Porque quando eu escrevia menos
as palavras me afogavam
dava tempo de pensar, sentir
e tudo isso ansiar pelo transbordamento em frases, versos, mirantes...

Agora não dá mais.
Um mínimo lampejo de poesia, uma faísca de criatividade e tudo é absorvido...

Textos, roteiros, artigos, posts, emails, mensagens em celular...

Não há tempo de maturar nada.
Aturamos tudo.

Ou ignoramos.

Tempos ignorantes.
Áridos.

El niño se foi. Ficou esse senhor sisudo.

Não aquece mais, não chove, não brilha, não floresce, não deságua, não muda em novas estações.

Mas eu espero.

15.2.16

temporal


o mundo cai
e desliza sobre minha janela

escorrendo sobre a terra
e acalmando as lavas do centro de tudo