25.8.18

A primeira translação


Você surgiu com astros terrenos, de virgem, mas com ascendência selvagem, no sagitário, também daquela que meio bicho te paria e meio humana se perguntava se tava tudo bem com você...

Estava tudo bem. Cada curvinha, cada pedacinho... Tudo inteiro, tudo macio, tudo encaixado... Chegou se encaixando em meus braços, com a "pega perfeita" querendo mamar. Como todo recém-nascido, só entendia os cheiros, o colo, o acalanto, o alimento. 

E eu entendi essa troca. Nos entocamos. Foi um puerpério invernal, mas teve sol, teve visitas, teve a caverna cinematográfica do cinematerna e dali começaram também a ter frestas para outras saídas, começamos a sair da toca...

Eu te levava pra passear? Ou você me levava? Ou às vezes eu me levava e você ia junto também, porque eu precisava ficar sozinha às vezes pra entender toda essa revolução astral que é se tornar mãe. E você podia ficar ali, no balanço do carrinho, em seu movimento, observando árvores, ouvindo pássaros, olhando o céu... E eu podia olhar pra frente e descansar um pouco do olhar pra você...

Mas era intenso, e quando você dormia eu sentia saudade, eu queria mais.

Florescemos nossa nova condição e chegou a primavera.
Novos frutos, novos desafios, novos passos, cada vez mais longe...

Você começou a sorrir, a cantar, a dançar com as mãos, a pegar o pé... Você passou a fazer parte da nossa vida e começamos a te apresentar a ela. Nós recebemos os amigos com sua presença, nós viajamos, nós mergulhamos em museus de tantos tempos e espaços, nós compartilhamos experiências com outros bebês nos cafés da tarde na Lumos, nos aventuramos com a Tê e a Nena, começamos a descobrir nossa solidão em estarmos sós, conhecemos o tédio, o cansaço, as noites de êxtase e exaustão, todos esses novos desafios semeados.

Raiou a nova vida, o verão ia chegando, as festas, as comemorações, (meu natal, o natal de todos, o ano novo...).

Você, ainda tão novo, ainda em experimentações e já conheceria um ano novo?

Mas tudo era novo, cada dia era uma surpresa que fazia seu olhar brilhar. Agora com foco, agora com gana, agora com gargalhada, com choro intenso, com fome, com ardor, com calor, com brilho, com vida!

O verão seguiu com passeios, um tempo excepcional, diferente da rotina, que você ainda nem sabia o que era e viria a conhecer...

Sua nova pediatra nos ensinou a te ensinar um cotidiano, era importante, pra dormir, se alimentar, brincar, descansar.

O verão ia acabar, o carnaval ia passar e o ano, enfim (?) começar. Um conceito que ainda falta muito pra você assimilar.

Meio ano com você, eu estava entendendo mais a nova vida e já via como seria possível te incluir na "velha", aquela que nunca voltará, pois nada será como antes.

Nem pra você. Agora você começou a conhecer sabores. Você pode degustar as cores, formas e texturas que o cercam. Não apenas lambidas e mordidas em brinquedos, mas sorver e engolir doçuras, azedumes, amarguras, picâncias... Mas nunca sapos! Não os engula, cuspa, sem dó, como você faz quando já está satisfeito e eu ainda não entendi.

E você estava pronto pra mais, muito mais, eu desconfiei que ia gostar da escola e você se adaptou rápido. Nos adaptamos bem na nova rotina. Nosso tempo junto perdeu quantidade e ganhou qualidade. 

Um outono de muita maturidade: estocando conhecimento, experiência, aprendizados, histórias, as primeiras viroses e noites de respiração difícil, e nos preparando para voltar ao inverno...

Aquele de quando você nasceu, mas agora com uma nova pessoa, uma que já conhece muito mais do mundo e vai atrás daquilo que quer.

O céu continua sendo o limite e ele testemunhará a comemoração desses seus 365 dias ao redor do sol, pelas luas crescentes, novas, minguantes e cheias e tantas estrelas iluminando ao redor!


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